Por que é bom sentir saudades?

Gabriela Ribeiro      sábado, 2 de junho de 2018

Compartilhe esta página com seus amigos

 

Sim, venho em total defesa dela, que é tão falada e sentida por qualquer ser humano. E para aqueles que moram longe das suas origens, a danada fica mais intensa e constante.

 

Você já parou para pensar que sentir saudades é sinal de uma “vida bem vivida”? 

 

Pense nisso: se você sente muito a falta de alguém ou “alguéns”, é sinal de que tem o coração cheio de amor e de que muitas pessoas especiais já passaram pela sua vida deixando marcas gostosas. E isso deve ser motivo para sentir muita gratidão!

 

Um coração vazio, que não chora a ausência de algo especial, que não se reporta a uma memória confortável e ao desejo de ter aquilo/alguém pertinho de novo, me dá a impressão de um coração desatento e preguiçoso para as coisas mais simples e bonitas da vida.

 

Portanto, se você é uma daquelas pessoas que vivencia as dores e as delícias das saudades, você tem todo meu apoio e admiração. A sua vida está valendo à pena!

 

Proponho aqui um olhar positivo para esse sentimento que, muitas vezes, machuca e desafia. Que pode gerar dor física e adoecer aqueles que não administram o aperto no coração e a sensação de incompletude.

 

Lembre-se: a saudades faz parte da nossa existência. E tudo que vem com ela é potencializado quando estamos em terras estrangeiras e fisicamente bem longe de tudo aquilo que nos referencia.

 

Quando se está tão longe, é mais fácil ter uma ferida aberta por muitas ausências. E sei, mesmo, o quão dolorido é acordar com aquele desejo que não pode ser atentido. 

 

Seja o que for que faça seu coração bater: ter o carinho e abraço dos SEUS pais, do sorriso encantador dos SEUS filhos, do amor espontâneo do SEU cachorro, do cheirinho de comida que sai da SUA velha cozinha, do aconchego e confidências do SEU velho quarto, do barulho da rua, da temperatura da cidade… Geralmente aquilo que não é possível ter quando se está do outro lado do oceano ou das Américas.

 

Eu poderia escrever páginas e páginas sobre tudo aquilo que faz cada um de nós chorar, sentir um aperto no peito e uma sensação de desamparo tremenda. Quem de nós não viveu isso na pele?

 

Mas óh! Apesar de validar esses momentos de dor, eu preciso de te alertar para algo importante:

 

Para viver no exterior com qualidade é preciso administrar a saudade de um jeito saudável. E para torná-la uma bela amiga e a maior prova de uma vida colorida, é preciso se dar conta de como você pensa sobre ela.

 

É produtivo, inteligente e necessário se propor a aprender a lidar com as ausências de um jeito positivo. Sim, o desafio interno é grande. Mas vale o esforço!  

 

Simbora! Não tenha medo da SAUDADE, não a torne uma vilã, nem lute contra ela. Ela está aí lhe dizendo uma coisa muito bonita: que você dá valor para aquilo que é seu.

 

E que conseguiu, ao longo da vida, conquistar pessoas, espaços e principalmente – conseguiu dar significado a sua existência.

 

Então quando ela chegar, bate um papo, agradece, valoriza, brinda, celebra a beleza daquilo que ela vem te contar sobre você mesmo e sua vida.

 

E não tem jeito, você precisa criar estratégias para ter uma rotina agradável, gostosa e cheia de sentido, onde quer que você esteja. Uma coletânea de momentos simples mas que fazem sentido para você.

 

E passar a valorizar mais (sempre mais) o que está perto de você, AGORA, nesse momento.

 

De novo: onde quer que você esteja.

 

Quanto mais apreciamos o que está ao redor, maiores são as nossas fontes de alegria e satisfação. Tenha certeza disso!

 

Por mais que as pessoas amadas e lugares especiais estejam longe, seu dia-a-dia terá mais sentido se você cultivar as relações com quem está perto.

 

Morro de saudades da minha família no Brasil, do me sobrinho que quando eu saí tinha 07 meses e hoje já está com dois anos e crescendo distante de mim. Cada amigo especial que fiz por aí faz falta. Quando fecho meus olhos, os vejo, os sinto. Por um lado, sinto tristeza. Por outro, me encho de alegria e gratidão - e é esse lado precisa ser alimentado!

 

 

 

Abrir os olhos e saber que existem pessoas legais por perto, quem se pode tocar, olhar nos olhos e dar um abraço é um dos combustíveis mais eficientes para seguir com a vida no exterior.

 

Como imigrante e psicóloga intercultural, eu afirmo com muita segurança: a adaptação ao novo é proporcional ao se desligar do que ficou para trás. Porque depois, e de qualquer modo, outras e outras ligações e re-ligações serão feitas.

 

O verdadeiro lar é onde nos sentimos bem, e principalmente, onde fazemos os outros se sentirem bem com nossa presença. E você, tem conseguido?

 

 

 

 

 

Comentários

Gabriela Ribeiro Psicóloga e Treinadora Intercultural

Gabriela Ribeiro

 

Sou psicóloga e treinadora intercultural apaixonada e curiosa por esse planeta, por diferentes culturas e migrações. Paixão que me leva a desbravar diferentes lugares e formas de viver - e sentir na pele as dores e delícias da vida no exterior. Atualmente vivo em Londres, já morei na Nova Zelândia, fiz um mestrado em Comunicação Intercultural na Suiça e estive em 31 países.  Há 12 anos entendi que a minha missão é ajudar as pessoas a serem felizes longe de casa. Ou melhor, é ajudá-las a se sentirem em casa  em qualquer lugar do mundo, convivendo com a diversidade cultural e sendo o melhor que puderem ser. Para si e para os outros.