O metrô de Londres e a minha ADAPTAÇÃO aqui

Gabriela Ribeiro      sexta-feira, 15 de março de 2019

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Eu adoro o metrô de Londres. É um ícone da cidade e facilita as andanças ligando bairros e lugares de forma rápida e muito prática. Os ingleses o chamam de TUBE (“tiub”), e quando se chega por aqui + o termo é adotado automaticamente.

 

Seus trilhos e corredores já serviram de abrigo e proteção dos bombardeios durante as guerras. Cada estação tem uma história, personalidade e uma vida ao redor. E adoro ver as frases diárias que algumas expõe diariamente para inspirar quem por ali passar. Umas são lindas, outras bem sem graça. Cada tem as suas facilidades, como escada rolante, elevador, livros a disposição de graça, e seus sons.

 

Pois é, falando em som, o tube é um lugar bem barulhento.  Estamos falando de um sistema de transporte que foi inaugurado no dia 10 de janeiro de 1863 e, mesmo que os trens sejam modernos, é natural que o toque destes nos trilhos façam barulho. Mas ainda tem as vozes dos alto falantes orientando a situação das linhas e horários, qual a próxima estação e o zumzumzum dos grupos que viajam juntos. Resolvi até gravar algumas cenas que chamei de “Sons do Metrô”.

 

Toda a vez que tento gravar um áudio no WhatsApp para alguém, eu desisto. A poluição sonora é intensa para os meus ouvidos. Mas ainda assim, eu gosto de estar ali. Valorizo o que o tube faz pelos passageiros e senti muita a sua falta quando voltei para Porto Alegre e não tinha um para chamar de nosso. Ainda estava na faculdade e ficava inconformada de não ter uma estaçãozinha que eu entrasse e então eu saísse lá na PUC, do outro lado da cidade.

 

Claro, não é confortável quando está lotado e não tenho ranço porque só utilizo algumas vezes na semana, pois trabalho em casa. Não sei explicar, mas desde a primeira vez que morei aqui, há 14 anos atrás, sinto algo bom quando entro no metrô. É um sentimento único e gostoso. Parece que o TUBE MODE é acionado e uma sucessão de ações já automatizadas acontecem:

 

  • Verifico se o Oyster Card (cartão de viagem) está carregado (tem dinheiro);
  • Avalio o trajeto que vou fazer (precisa de baldeação ou não?);
  • Passo na catraca;
  • Desço as escadas rolantes, ficando parada na direita ou descendo pela esquerda, se estiver com pressa;
  • Vou para a esquerda ou direita em direção a plataforma certa;
  • Sigo (ou não) por um corredor que ás vezes tem músicos para alegrar o trajeto;
  • Ás vezes tem mais escadas no caminho;
  • Chego na plataforma, verifico daqui a quantos minutos o próximo trem chega (geralmente é de 1 a 2 min);
  • Me afasto dos trilhos por motivos de segurança (alguns loucos andam empurrando pessoas aleatoriamente);
  • Vejo onde deixei meu telefone (pois fui roubada recentemente dentro do trem :(, estava cheio e o salafra tirou meu iPhone do meu bolso sem que eu percebesse);
  • Quando o trem chega, é preciso deixar as pessoas sair antes de entrar;
  • Torço para que tenha lugar disponível para sentar :);
  • Se eu sentar, eu leio ou escrevo (viva o app Notes!);
  • Se eu ficar de pé, fico olhando as propagandas e observando as people ao meu redor;
  • Chegando no destino, subo as escadas rumo ao WAY OUT, passo catraca e dou de cara com algum lugar bacana dessa cidade tão bonita e intensa.

Sobre ler, vale mencionar que há 14 anos atrás eu amava ver a maioria das pessoas lendo um livro ou jornal durante o seu trajeto. Até hoje diversos jornais gratuitos são distribuídos na frente das estações. No entanto, perderam espaço para os telefones e quase todos estão olhando para a sua tela particular.

 

Confesso que eu também. Mas quando estou no metrô ou trem, procuro priorizar o livro, tiro o meu da bolsa e orgulhosamente dou atenção ao que ele tem para me contar. O tempo passa rapidinho, me sinto produtiva e um pouquinho mais londrina.

 

Na verdade, é isso! Eu sei explicar porque me sinto bem. Porque me sinto parte dessa cultura. Quando entro na estação e ligo o modo tube, ajo como os locais, me mesclo com eles. Os sons do metrô já são muito familiares e me fazem sentir em casa. Faço parte do ritual que é utilizar esse transporte público e assim, me sinto mais adaptada, independente, confortável e feliz.

 

 

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Gabriela Ribeiro Psicóloga e Treinadora Intercultural

Gabriela Ribeiro

 

Sou psicóloga e treinadora intercultural apaixonada e curiosa por esse planeta, por diferentes culturas e migrações. Paixão que me leva a desbravar diferentes lugares e formas de viver - e sentir na pele as dores e delícias da vida no exterior. Atualmente vivo em Londres, já morei na Nova Zelândia, fiz um mestrado em Comunicação Intercultural na Suiça e estive em 31 países.  Há 12 anos entendi que a minha missão é ajudar as pessoas a serem felizes longe de casa. Ou melhor, é ajudá-las a se sentirem em casa  em qualquer lugar do mundo, convivendo com a diversidade cultural e sendo o melhor que puderem ser. Para si e para os outros.